Oi Tereza, tudo bem com você?
Muito prazer, meu nome é Júlio Silva do Espírito Santo, também talvez conhecido como "seu pai", "papai", "pai mais legal do mundo", entre outros nomes que vc preferir me chamar, de preferência não sendo pra falar mal de mim, estou escrevendo esta publicação hoje, dia 15 de junho de 2016, alguns dias depois que você nasceu, porque minha amiga Sofia (é familiar este nome pra você? depois te explico melhor sobre seu nome) me deu essa ideia fantástica, a de deixar registradas mensagens pra você. Eu sei que é fantástica a ideia porque eu já li o livro "A Garota das Laranjas", do autor Jostein Gaarder e "faz todo o sentido", como diria a sua mãe, um tempo depois que começamos a conversar, mas tudo isso eu posso contar em outra publicação.
Minha intenção aqui é escrever textos que você vai ler em horários que eu achar que você está pronta para fazê-lo. Dando um spoiler do livro que você PRECISA ler e eu já falei no parágrafo anterior, o pai do garoto do livro, escreveu uma carta gigantesca para ele na estória, contando a história deles e eu pretendo fazer algo análogo, contando a minha história, apesar de A PRINCÍPIO eu não estar com nenhuma doença terminal e não achar que vou morrer tão cedo, mas vai saber né, como diria o pequeno príncipe (leia este livro também, ele é muito bom e até onde eu me lembre é o preferido da sua avó minha mãe), "a gente nunca sabe". Este livro provavelmente ainda existe em casa, se ninguém tiver jogado fora, a sua mãe adora se livrar de coisas que estão ocupando espaço e sem uso, exija dela todos os livros dos quais eu falar por aqui, são realmente muito bons.
Bem, quem sou eu? como sou eu?
Como já falei, meu nome é Júlio, alguém já me chamou só de Ju, mas infelizmente não lembro mais quem foi, é que eu tenho esclerose. Múltipla, ainda por cima. "Esclerose" eu lembro de as pessoas usarem pra atribuir a pessoas muito idosas e que não conseguiam lembrar de quase nada e geralmente usavam esse termo de modo pejorativo, coisa que quero que você me prometa que nunca vai fazer quanto a NENHUM termo, nunca fale mal das pessoas, mesmo as que você achar que fazem muitas coisas erradas, na sua opinião, por uma só razão: é a SUA OPINIÃO, isso não significa que é uma verdade absoluta e imutável, você também certamente cometerá erros durante a sua vida, e não digo erros como fazer cocô e xixi na fralda como vc sempre faz atualmente, felizmente, isso não é um erro, é só parte integrante do seu primeiro aprendizado na vida,
Falando nisso, vamos falar um pouco do seu nascimento e de tudo que aconteceu antes dele...
Antes de você existir na minha vida, já existia a ideia de você, na verdade desde criança eu queria ter um filho. Isso porque eu me sentia muito cerceado em algumas liberdades que eu gostaria de ter, pra fazer diferente com meu filho do que a maioria dos pais faziam naquela época e fazem até hoje.
E digo filhO por ter tido realmente a intenção de ter um filho garoto, a princípio, mas algumas coisas me fizeram mudar de ideia com o tempo.
Bem, eu tinha lá meus 4 anos de idade e já pensava em ter filhos, coisa que demorou bem mais de 20 anos pra acontecer de fato desde então, e você é a primeira filha que tenho. Mas por favor não pense que eu não fiquei extremamente feliz ao saber que você era uma garotinha. Na verdade no dia que soube eu já nem me importava com qual seria seu gênero, só me importava o fato de poder ter uma criança que eu pudesse ensinar as coisas que consegui aprender de bom durante a minha vida e até outras que não foram tão úteis assim. O problema é que a gente nunca sabe o que virá no futuro, não podemos contar nem com
Como eu ia dizendo no início do parágrafo anterior, antes eu gostaria de um filho, um garoto, mas só por esperar que eu pudesse fazer da vida dele, uma coisa bem diferente do que foi a minha em muitas coisas que eu não podia mais mudar, mas depois de algum tempo e alguns relacionamentos, com duas garotas em especial, me dei conta de que, o gênero de minha cria não mudaria em nada o amor que eu sentisse por ela. Quando sua mãe e eu decidimos que você viria ao mundo, eu já sabia que era isso o que eu queria na minha vida, já havia até decidido seu nome antes de qualquer coisa, SERIA Tereza Sofia ou Sofia Tereza, caso fosse uma menina e se fosse menino seria Lucas Ricardo ou Ricardo Lucas.
Mas que nomes são esses? De onde tirei esses 4 nomes? São nomes de 5 pessoas muito importantes na minha vida. Vou contar sobre quem são essas pessoas e como 4 nomes são de 5 pessoas:
Tereza Oliveira da Silva foi minha avó materna, ou seja, sua bisavó paterna (procure não se perder nessa definição de materna e paterna), ela era um amor de pessoa com qualquer um que a conhecesse, apesar de ser muito ingênua quase sempre, o que fazia com que outras pessoas quase sempre se aproveitassem dela e por causa disso minha mãe brigasse muito com ela, quase todo dia, vê se pode, minha mãe brigando com a própria mãe... Acho que não pode, mas minha mãe achava que podia por ter convicção de que a mãe dela (dona Tereza Oliveira da Silva) estava sempre fazendo tudo errado, mas não era bem assim. Não mesmo, minha avó estava quase sempre certa em seu modo de pensar, por mais que o modo dela de pensar tenha feito com que ela sofresse
Uma frase que marcou muito pra mim, vinda da minha avó, depois de já saber que sou ateu (sim, sou ateu, pode procurar no dicionário o que isso quer dizer, se você não souber, mas dou spoiler, significa não acreditar em deus, mas isso eu explico em outro texto, se me lembrar disso. O fato é que minha avó primeiro ficou com raiva de mim, quando me auto-declarei ateu, mas já num dos últimos anos de vida dela, ela me falou uma coisa extremamente importante: "não importa se Deus existe ou não, o que importa é o bem que ele faz na vida das pessoas". Com essa frase, eu poderia ter começado uma discussão a respeito do fato de também fazer mal pra tantas outras pessoas que sofrem coisas negativas vindas da bíblia, mas eu só fiquei parado, perplexo e boqueaberto, pensando "como eu nunca parei pra pensar nisso antes?" E é verdade mesmo, esse deus faz muito bem pra muitas pessoas, apesar de tudo, mas vou deixar pra falar sobre isso em algum outro momento mais oportuno.
Sofia é, em primeiro lugar, uma garota que conheci através da internet, graças a um amigo que tinha a mesma idade que ela, ambos eram muito jovens à época, ele (Ayrton Queiroz) era meu vizinho e amigo e havia conhecido essa moça, Sofia, uma garota muito inteligente também, sendo que eu tinha uns 20 e poucos anos ou sei lá quantos e ela tinha uns 11. O que me impressionou foi como ela era inteligente e, assim, conversávamos sobre praticamente tudo pela internet. Muito tempo depois de conhecê-la é que resolvi finalmente ler outro livro do Jostein Gaarder (mesmo autor dA Garota das Laranjas), chamado O Mundo de Sofia. O livro também é muito legal, apesar de cansativo, às vezes. Tanto que nem a própria Sofia minha amiga conseguiu lê-lo completamente, até onde eu saiba, mas o livro é realmente esplêndido.
E se fosse menino? temos dois nomes que seriam meus preferidos, apesar de haverem ainda outras possibilidades... tive grandes amigos na minha época de primeira infância, dos quais eu daria atenção ao Diego, Leonardo e Alexandre, mas como foram pessoas de quem acabei me afastando com o tempo e minha esclerose múltipla me ajudou a esquecer muitas das coisas que vivemos, não sei como poderia explicar com tanta clareza se fosse perguntado por meu filho o motivo de seu nome. Em compensação tive um amigo com quem eu lembro que gostava muito de conversar por ser extremamente divertido. Acho que o conheci quando tinha uns 15 ou 16 anos de idade e eu tinha uma banda de rock, o Lucas Cresta era muito engraçado e divertido, apesar de ele também tendo acabado por cair no problema de ter se afastado de mim, até por ele ter saído de Manaus, onde morava à época. Em compensação, quando eu estava no segundo ou terceiro ano do ensino médio na escola, conheci um rapaz tão divertido quanto o Cresta, chamado Lucas Raposo, com o detalhe de ser provavelmente o garoto mais inteligente da turma em que estudávamos. Eu lembro de como gostava de conversar com ele, apesar de não lembrar muito de conversas que costumávamos ter, mas a questão é que Lucas já seria um nome ideal pra um filho meu, mas não podia ser só isso. Desde que nasci, eu tinha um tio com síndrome de down, filho adotivo da minha avó Tereza, que era minha companhia eterna, em todos os momentos que eu queria companhia, ele se chamava Ricardo, lembro que todas as vezes que voltávamos da igreja nos domingos, apostávamos corrida até chegar em casa na rua de casa. Era muito divertido, ainda mais pelo pastel que minha avó sempre comprava depois da missa pra tomarmos café todos juntos no domingo. Era um tempo muito feliz, aquele. Mas aprendi com o filósofo Mário Sérgio Cortella que é importante ter saudade, mas evitar nostalgia, só lembrando das coisas boas que o tempo que passou nos ensinou a ser quem somos hoje.
Bem, se fosse um menino, provavelmente seria Ricardo Lucas ou Lucas Ricardo, em homenagem a essas pessoas que foram tão importantes na minha vida a ponto de eu conseguir lembrar de tantas coisas que vivemos, mesmo com esclerose múltipla.
É muito triste que tanto minha avó quanto meu tio já tenham falecido, mas é preciso que aprendamos a ver coisas positivas em todas as ruins que nos acontecem (falando nisso, não deixe de ler o livro Poliana!!!). Pra mim, foi infelizmente positivo na morte da minha avó o fato de eu ter finalmente evoluído mais, sem precisar tanto assim dela, sem contar que só assim eu fui capaz de sair da casa da minha mãe pra ter minha própria vida. E foi muito bom eu ter saído de lá pois minha mãe, sua avó paterna, era uma pessoa demasiadamente controladora, coisa que nunca aceitei muito bem e como tinha conseguido uma casa graças à minha última namorada antes da Paula, chamada Maysa, eu não precisava mais morar na casa da minha mãe, felizmente, fazendo com que nossas brigas cessassem ao menos parcialmente, já que nos encontrávamos raramente. Só estamos próximos hoje (16 de junho) por você ter nascido semana passada e minha mãe morar próximo ao hospital onde você nasceu, sendo que com seu nascimento, minha mãe virou uma pessoa muito mais amável agora, quase sempre. Obrigado, Tt! :D
Ah! Eu também queria que seu nome tivesse Maysa no meio, por causa dessa última namorada que tive que se chamava assim e que foi extremamente importante na minha vida, com quem aprendi tanta coisa importante, mas que por eu próprio ter sido tão infantil, a perdi, é que eu não estava pronto ainda. Como fala no título do livro do Mário Sérgio Cortella, "Não Nascemos Prontos", deve ter esse livro ainda por aí, gosto muito desse filósofo, procure ver coisas dele.
Ah! acabou dar meia noite, ou seja, agora você acabou de fazer 1 semana de nascida, a Paula veio sentar numa cadeira de balanço aqui, que minha avó usava, e eu fui lá com ela dar um beijo em você, me esforçando pra que você não chorasse e acordasse a casa toda da minha mãe. Você está mamando na Paula agora, linda como só você consegue ser.
Bem, há mosquitos demais aqui e vou deixar logo publicada esta postagem e qualquer coisa eu atualizo quando lembrar de algo mais a escrever aqui. Beijos e até a próxima. Amo muito você, principessa (assista ao filme A Vida é Bela, é muito bom, de preferência em italiano mesmo, com legenda, fica mais bonito, mas provavelmente eu fale mais sobre este filme em outro texto meu...
Tenha um ótimo dia, meu amor. Amo muito você.
